Lembro-me bem de andar a pedir o “pão-por-Deus” na aldeia
onde a minha Avó materna vivia!
Como eu era “menina de Lisboa”, e ia sempre acompanhada pelos primos
mais velhos, os vizinhos apenas perguntavam: “ah menina, de quem és tu filha?”
ao que eu respondia sempre: “sou neta da “Mari’Júlia”!” E assim, os nossos
saquinhos se enchiam de “ferraduras” e bolos de canela!
“O peditório do pão-por-deus ,está associado ao antigo
costume que se tinha de oferecer pão, bolos,vinho e outros alimentos aos
defuntos.
Em Portugal no dia 1 de Novembro, Dia de Todos-os-Santos, as
crianças saem à rua e juntam-se em pequenos bandos para pedir o Pão-por-Deus (ou o bolinho) de porta em
porta. O dia de pão-por-deus, ou dia de todos os fieis defuntos, era o dia em
que se repartia muito pão cozido pelos pobres.
É também costume em algumas regiões os padrinhos oferecerem
um bolo, o Santoro. Já pedir o "santorinho", que começava nos últimos
dias do mês de Outubro, era o nome que se dava à tradição em que crianças
sozinhas, ou em grupo, de saco na mão iam de porta em porta para ganhar doces.
As crianças quando pedem o pão-por-deus recitam versos e
recebem como oferenda: pão, broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes,
tremoços, amêndoas,ou castanhas que colocam dentro dos seus sacos de pano, de
retalhos ou de borlas.
Em algumas povoações da zona centro e estremadura chama-se a
este dia o ‘Dia dos Bolinhos’ ou ‘Dia do Bolinho’. Os bolinhos típicos são
especialmente confecionados para este dia, sendo à base de farinha e erva doce
com mel (noutros locais leva batata doce e abóbora) e frutos secos como passas
e nozes.
As crianças e os adultos que participam nos peditórios
representam as almas dos mortos que «neste dia erram pelo mundo», quando pedem
pão para para partilhar com as almas. O pão por Deus é uma oferenda que se faz
às próprias almas.
Em Barqueiros, concelho de Mesão Frio, à meia-noite do dia 1
para 2 de Novembro arranjava-se uma mesa com castanhas para os parentes já
falecidos lá irem comer durante a noite “não devendo depois ninguém tocar nessa
comida, porque ela ficava babada dos mortos”.
Na freguesia de Vila Nova de Monsarros, Anadia, as crianças
faziam os "santórios", recebiam fruta e bolos e cada criança
transportava uma abóbora oca com figura de cara, com uma vela dentro.
"Em Roriz não se chama pão por Deus, nem bolinhos, nem
santoros a comezaina que se dá aos rapazes no dia de Todos os Santos ou de
Finados. O que os rapazes vão pedir por portas, segundo lá dizem, é — os fiéis
de Deus”
Nos Açores dão-se “caspiadas” às crianças durante o
peditório, bolos com o formato do topo de uma caveira, claramente um manjar
ritual do culto dos mortos.
Com o passar do tempo, o Pão-por-Deus sofreu algumas
alterações, os meninos que batem de porta em porta podem receber dinheiro,
rebuçados ou chocolates. Esta atividade é também realizada nos arredores de
Lisboa. Antigamente relembrava a algumas pessoas o que aconteceu no dia 1 de
Novembro de 1755, aquando do terramoto de Lisboa, em que as pessoas que viram
todos os seus bens serem destruídos na catástrofe, tiveram que pedir
"pão-por-deus" nas localidades que não tinham sofrido danos.”
(Texto retirado da Wikipédia)